Sinais (12)
Não temos uma visão clara da actual mobilidade das relações duradouras. Os números indicam, com tenacidade, o aumento progressivo dos divórcios, mas isso diz-nos pouco: tenho na consulta casais juntos há vinte anos, com filhos, e que nunca passaram no cartório. A langue de bois remete-nos para a crise, a falta de emprego etc, diz a drª Fidélia Proença de Carvalho no link supra. Isso deve querer dizer que, agora, com a recuperação, os números vão baixar. Está bem abelha.
Do meu pequeno canto faço outras contas. As relações longas tendem a cristalizar em categorias anti-amorosas: a cooperação familiar, a economia comum, a propriedade sexual. Ora, a base da uma relação amorosa, o strata essencial, é a atracção mútua. Sem ela, as relações longas caem num amável logro: temos uma relação porque estamos juntos. As relações amorosas, quaisquer umas, assentam no princípio inverso: estamos juntos e por isso temos uma relação.
Já sei que me vão falar do desgaste natural do tempo. Sim, o tempo faz o sal, o bacalhau e os presuntos. Pois faz: melhora-os. Não há nenhuma razão para que o tempo mate uma relação. Ele é o culpado sistémico, o judeu da política amorosa. Quantas vezes não fiz mediação conjugal em relações com três ou quatro anos?
Quando uma coisa tem de acabar, tem de acabar, isso não se discute. O que se discute aqui é o antes. O tempo, o judeu sistémico, é, como não podia deixar de ser, a causa sem efeito.
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