O cão vegan

O meu pai era um pastor alemão do canil Von Stern de Agualva. Tinha muito orgulho nele. Foi adoptado  por 900 euros e viveu numa família da Quinta da Marinha durante doze anos. Teve alguns problemas porque  controlava mal os esfícteres, mas fora isso foi  um magnífico representante  da nossa  classe. Refiro-me, óbvio, à classe dos seres conscientes.  "Cão" é um arcaísmo do tempo da segregação desumana.

A minha querida mãe nunca a conheci.  A família que me acolheu quis um bebé recém-nascido, de maneiras que  passei as primeiras semanas  num hospital-maternidade com todo os cuidados necessários. Ao mês e meio já estava com minha  família, aos três já comia à mesa. E foi assim que me tornei vegan.

Hoje tenho cinco anos, castrado  e feliz, sou a alegria da casa. Quando os meus  papás não me podem levar ( resquícios da segregação, pois  adoro cinema), a minha tia Felícia, engenheira química, vem ficar comigo e jogamos  scrabble até altas horas. Às escondidas dos meus papás dá-me pedacinhos de pata negra 5Jotas. Morra gato morra farto, salvo seja...

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