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A mostrar mensagens de março, 2018

Intervalo

Viagens, sem,  fotos, pessah; regressa-se, se os deuses o permitirem, depois da dita.

Sinais ( 11)

Suponho que seja um movimento convergente: os novos são hoje  mais atinados, os velhos estão  mais amalucados. É  contrário à  tradição  do enfado diante da decadência? Tanto melhor. Os novos quase nunca têm  mais do que um irmão ( com frequência são filhos únicos), muitos cresceram com pais separados, confiam na tecnologia para lhes indicar os caminhos do bosque. Têm de ser sólidos.  A lengalenga do facilitismo escolar só a compreendo  a quem não tem filhos. Os miúdos de hoje estudam muito mais. Os meus  tinham testes com a matéria do ano inteiro: comigo dava motim ou encenação de crise psicótica. São porventura mais lânguidos, ficam em  casa dos pais mais tempo? Talvez. Os ursos também hibernam, mas  isso não os impede de limpar o sarampo ao primeiro petisco  primaveril. Para além disso, é inteligente  não ter pressa de entrar neste mundo adulto em que os impostos nos comem vivos, os cãezinhos têm papás e o tédio sobrevive aos antidepressivos.  Os mais velhos  são precisa

Sinais ( 10)

Pela lógica das coisas, manganos e moçoilas de vinte anos, amigos dos animais ou, melhor, radicais defensores dos direitos dos animais, deviam constituir um exército. Com a energia da juventude, brigadas implacáveis deviam atacar aviários, pocilgas, estábulos. Galinhas que nascem  e morrem  em meio metro quadrado, vacas presas a tubos afixados  às tetas, porcos que nunca vêem a luz do dia: o novo proletariado. As gerações mais velhas  também se envolveriam, trazendo experiência  e fundos sempre necessários à luta armada. Por razões misteriosas, esse exército é de  terracota e jaz inerte. Os manganos  e moçoilas passeiam  à trela pequenos rafeiros e protestam contra as touradas. E assim se ficam. De resto, continuam a comer em hamburgerias  da moda e fazem petiscadas de salsichas nos festivais de Verão. As tias do movimento, se é certo que  afogam desgostos amorosos ou de pais  pouco fofos nas lambidelas dos seus canídeos, alimentam-nos com restos de cadáveres de animais: No matter

Sinais ( 9)

No outro dia,  um tablóide chamava  à capa : os novos detectives electrónicos das infidelidades - você também pode ser um.   Podemos ir com Barthes - o fait divers é uma arte das massas - ou suspeitar de coisa mais concreta. Se formos com Barthes, esta nova profissão é, afinal, velha O fait divers tem como função preservar a ambiguidade do racional e do irracional, do insondável e do inteligível. A infidelidade  electrónica é ela própria ambígua - o reencontro  exaustivo com um  antigo colega no facebook . O faça você mesmo, por seu lado, não é para todos: muitos de nós nunca chegámos  a usar o espectacular  beberbequim  a laser e lá repousa ele no seu estojo brilhante. Já se suspeitarmos de uma sugestão concreta, a coisa muda de figura. Começa pelo enunciado: a mesma tecnologia que  provoca a infedilidade pode descobri-la se você for eficiente. Isto leva-nos a uma conclusão surpreendente: dedique o tempo da sua relação  a provar que ela não funciona. O concreto da cois

Sinais ( 8)

A cria mais nova está no primeiro ano de psicologia. Pergunta-me  a diferença entre um sociopata e um psicopata. Respondo-lhe que não sei. Fica meia desiludida. Ofereço-lhe um conselho: se queres aprender alguma coisa de psicologia, lê os críticos da coisa. Lê Focault, lê os movimentos anti-psiquiatria dos anos 70, lê o Szasz. Caso contrário ficas um papagaio. Eu sei, quando estamos a aprender queremos tudo arrumadinho, em quadros e tabelas. Também já fui assim ( nos intervalos  do deboche) , não esqueço. Papagaios seniores dão-nos um mundo  impecável de ceretezas, aquilo que na antroplogia se chamava ciência de varanda ou de alpendre ( versão lusa). Depois falhamos e crescemos. O Estado Novo  impediu que João dos Santos tivesse formado mais gente em Portugal. Ainda estive com ele uma vez, em casa do meu cunhado Carlos Amaral Dias, mas foi sobretudo  a lê-lo - os livros com João Sousa Monteiro e os trabalhos sobre patologias infantis - que desemburrei.  É uma pena que os papa

Sinais ( 7)

"The Colophonians say that Homer was their citizen; the Chians claim him as theirs; the Salaminians assert their right to him; but the men of Smyrna loudly assert him to be a citizen of Smyrna, and they have even raised a temple to him in their city. Many other places also fight with one another for the honour of being his birth-place.      They, then, claim a stranger, even after his death, because he was a poet; shall we reject this man while he is alive, a man who by his own inclination and by our laws does actually belong to us?". ( trad. de  C.D. Young )  O discurso de Cicero é em defesa de Arquias, que pediu  a cidadania  romana apesar de ter nascido na Lucânia. Ainda mais interessante é a chegada de Édipo às portas de Colono. Velho, cego  e portador  da maldição. Este arrazoado todo para falar de emigração. A tese estabelecida é esta: os partidos tradicionais s não ousam enfrentar o problema, por isso os movimentos populistas, mais ou menos xen

Sinais ( 6)

A ideia está armada desta maneira: o populismo é um sinal dos tempos actuais e as redes sociais favorecem-no. Vamos  dividir a ideia: É curioso como os propagadores da ideia colocam Maquiavel no século XXI:  não importa o que  o princípe é, importa o que o povo pensa que o príncipe é.  Inventivos, mas até podiam ser mais. Paflagónio é desafiado por um  salsicheiro que consquista as graças do povo. Ambos  são uma criação de Arsitófanes destinada a acusar  Cléon, o demagogo - que na origem até era uma designação nobre (aquele que conduz o povo) . São tantos os exemplos. Mais um e dramático: Nicolau II, o últímo czar. Um  semi-débil, criado no fausto  da caça e das  imbecilidades, vagamente sonhador de um comunhão  sagrada entre  a Russia e a Igreja, ou seja, entre Deus e ele. O populismo é velho como o mundo. As redes socias, o poder das redes sociais: os bem pensantes  tremem de pavor enquanto espreitam  o   facebook do vizinho ou o twitter da amiga. Pois sim, sem dúvida

Sinais ( 5)

Ainda a América  e a  vaga ideia de um pressuposto ( inconsciente ) colectivo para a  violência. Os delírios psicanlíticos são divertidos ( às vezes são nocivos,  isso ficando para outra altura) , mas de vez em quando aproveitam-se coisas. W.R. Bion fez escola com a definição dos pressupostos básicos  de funcionamento grupal: o da dependência, o de ataque  e fuga  e o messiânico. O primeiro e o terceiro são facilmente  reconhecíveis: um grupo tende  a depender de um líder que tudo satisfaz mas  que ao mesmo tempo tudo paralisa;  por outro lado,  o grupo tende  acreditar que no futuro  aparecerá um salvador ( pessoa ou acontecimento) que tudo resolverá. São excitantes, mas também ficam para outra ocasião. O segundo, o de ataque  e fuga , é o que me interessa para o assunto: o grupo acredita que existe sempre  um inimigo do qual  deve fugir ou atacar. As provas científicas do período magdaleniano e, de um modo geral , do paleolítico superior, são superabundantes. De Morella la Vel