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A mostrar mensagens de fevereiro, 2018

Talvez

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Os deputados passistas - uma peste pior do que a bubónica -  ainda não viraram a seta  do símbolo do PSD  de cabeça para baixo nem alcunharam Salvador Malheiro e Elina Fraga de cabecilhas do gangue do multibanco. O crime dos deputados  foi não querer  Negrão para liderá-los. Talvez porque os deputados passistas, quais pequenos  proprietários rurais insensíveis à nova NEP,  tenham entendido que, constituindo a maioria do maior grupo parlamentar ,talvez tenham direito a parlamentar. Já que não puderam apoiar um executivo ( o que costuma acontecer  após eleições ganhas), talvez pudessem fazer o seu trabalho escolhendo quem os liderará. Talvez não entenda assim a nova direcção do PSD, impante de  renovação e gente nova. Talvez mais  uma banheira de ética seja substituir o povo que atribuiu aos deputados o seu mandato. Se os deputados passistas não quiserem sair a bem, talvez a nova direcção do PSD se lembre de recriar o cerco à Constituinte, mas desta  vez sem sem deixar pa

Sinais ( 4)

A América é um erro, mas um gigantesco erro . A ironia  de Freud  é-lhe  atribuída pelo seu  biógrafo, Ernest Jones,  e terá sido proferida no regresso da viagem aos EUA em 1909. Mais tarde, em 1968, Paul Roazen contextualizou: uma mistura de  vitalidade com pudor, falta de modos e  de tradição intelectual, hipocrisia sexual.  Não por acaso,  a  psicanálise teve um estrondoso sucesso nos EUA ( o que muito admirou Freud). Embora tenha vagas  raízes americanas -  a minha mãe nasceu lá e eu  e  o  meu primo Johnny, piloto da força aérea dos EUA, temos o  único par de  olhos azuis da família -    nunca tive a menor curiosidade em lá ir. Toqueville foi e ensinou-me muito.  As contradições continuam. Toqueville espantava-se  como era possível um povo estar  tão avançado a ponto de as mulheres já herdarem e o povo eleger  os cargos executivos ao mesmo tempo que o adultério era punido com pena de morte. Hoje podes comprar armas muito antes de poder comprar cigarros.  Não se pode

Drogas ( 4)

A Lei Seca  ( o Volstead Act)  mostrou, literalmente a priori ,  que os instrumentos de controlo de objectos de prazer excessivo influenciam em alto grau a qualidade dos mesmos.  Em 1926 ( Behr , 1996)  todos os meses eram vendidos, oficiosamente , à indústria de cosméticos 660.000 galões  de etanol. Nesse período observou-se, por exemplo,   a troca da cerveja  e da cidra  pelas bebidas destiladas ( Thorton, Policy  Analysis 1991) . Acontece que a Lei Seca mostrou igualmente  categorias familiares ao aparelho proibicionista das intoxicações: as culturais, sociais  e religiosas. A América do século XIX , do desenvolvimento  ( e conquista....) dos territórios e da supermodernização industrial,  atraiu milhões   de emigrantes de culturas bebedoras diversas: alemães, italianos, polacos, irlandeses. Uma clivagem entre a cultura sober e oldtimer   dos protestantes  ( sim, o Lucky Luke tem muitas tiras com as senhoras de preto   da WCTU e da ASLA) e os beberrões católicos  recém-chegados 

Sinais ( 3)

As grandes mudanças  tecnológicas são irreversíveis. Ninguém abandona o automóvel para regressar  à carroça nem troca o telemóvel pelo pombo-correio. Resistir às mudanças é bom, faz parte  da dialéctica, mas recusá-las é outro osso. Uma dessas recusas é a teoria de que a tecnologia criou uma sociedade  de ódios e rumores permitindo que qualquer  um diga e escreva o que lhe apetece sobre não importa o quê nem quem.  Isto não é novo. Os psi de alpaca nunca perceberam que não é  o meio - a multidão - que transforma o pacato Zé num vandâlo. O pacato Zé é uma construção da sogra, do trânsito e  do patrão toda  a santa semana, mas, aos domingos, anónimo no meio da tal multidão, sente-se livre para atirar um pedregulho a um fiscal de linha que não conhece de lado  nenhum. A multidão não criou nada, revelou. Como sempre,  numa sociedade capitalista, as novas tecnologias ficam ao dispor das massas num ápice. Todos conhecemos o exemplo do  erudito que brincava aos blogues e que depois

Sinais ( 2)

No outro dia, de relance ( por isso não me lembro  qual), vi na capa de uma revista qualquer coisa como as crianças ditadoras ou os novos pequenos ditadores . Associei de imediato aos cães que, à trela,  puxam os trôpegos donos numa  espécie  de neo-ski urbano. Crianças ditadoras é uma contradição nos seus termos. De onde vieram elas? De Marte? Terão lido, ainda  de chupeta, o g rande educador fascista Gentile e  a sua tese de que a educação é  o processo da revelação do Absoluto? Não me cheira. Talvez ir pelos adultos. Se vivemos numa cultura narcisista em que pomos 50 fotografias dos nossos filhos no facebook por mês, em que gostamos tanto de nós que os nossos filhos só podem ser os mais imarescíveis seres  de luz, em que rejeitamos  o envelhecimento e, por consequência, idolatramos a juventude, talvez haja aí uma aberta.

Drogas ( 3)

Petitpas Taylor disse ontem  aos jornalistas que legalização da canabis recreacional não é uma data, é um processo.  Tem a senhora toda a razão. Já isto they suggest the drug is less harmful than tobacco and alcohol é um disparate pegado. Este tipo de  abordagem vai fazer muito mal a processos como o canadiano. Os opiáceos, a canabis, a cocaína não fazem  bem ao corpinho . Alcalóides e/ou semi-sínteses  da coca e do ópio  têm utilização terapêutica  desde o século XIX ( no caso da morfina) , mas isso é outra conversa. O ponto aqui é outro: não se reverte o processo proibionista criando uma ficção. As drogas são más como o trânsito é mau, os conservantes são maus ( alguns), a prescrição maniáca de antidepressivos é má, a vida é , de uma  forma geral, lixada; com bons intervalos quando o Jonas marca golos ou a cama corre bem . A reversão do projecto proibicionista, tintadíssimo de uma visão imperial , colonial e religiosa , passa por assumir as intoxicações como um affair d

Drogas ( 2)

A  ideia da escalada é velha: começas a rodar uns charutos e acabas nas chinesas, ou seja, vais do hax à heroína enquanto o diabo esfrega  o olho. O que é curioso é que a ideia não é errada quando analisamos, por exempo,  o perfil de um toxicodepente da velha guarda. O que é curioso é que  a ideia está errada quando aplicada à população em geral. Quando trabalhei no terreno (89-95), e quase sempre numa valência pesada ( a unidade de desintoxicação do CAT de Coimbra), era raro  o heroínomano que não tivesse começado pela canabis. Isto nada tem de excepcional e é até intuitivo. Na minha geração, todos os que experimentaram drogas ilegais usaram canabis: ninguém começava na braquinha ou nas chinesas , muito menos a dar na veia.  Pois é, o problema  da teoria da  escalada é que não explica por que motivo tanta  gente que rodou uns charutos nunca sequer se  aproximou das outras drogas. Temos então uma escalada com direito de admissão. Como dizia o Freud tardio ( já curado das teo

Drogas ( 1)

A tendência para a legalização da produção e comércio das actuais drogas ilegais  era inevitável. Convém recordar sempre que o edifício proibicionista só ficou concluído em 1961. A partir daí, a hipocrisia americana assumiu-se  de vez: William Casey dirige, nos anos 80, uma das  maiores estações da CIA. Em 1982, a heroína afegã e paquistanesa já cobre as necessidades de 60% do americanos. O Afeganistão já produz, em 1983, cerca de 575 toneladas /ano. Greenleaf e Wilson explicaram à administração Reagan que "se  dessem  à guerrilha afegã um décimo da ajuda que os soviéticos deram aos norte-vietnamitas,  the Russians would really have either hands full ". Em 1983, pôs-se o problema da Emenda Rodino, que interditava a ajuda a países que não tomassem medidas adequadas para controlar a produção e exportação de narcóticos ( Mc Coy, 2003).  O presidente da House of Foreign Affairs Comittee, Steven Solarz, quis  saber como era possível ajudar quem enchia as ruas ame

Sinais ( 1)

Os telefones convencionais  não alteraram uma cultura da escrita. Em 1982, Walter Ong escrevia que  a escrita dava  ao  grafolect ( uma escrita estandardizada, como o inglês) um poder  muito maior do que qualquer dialecto puramente oral. Pois, mas também vaticinava que a palavra falada resistia, porque toda  a escrita tinha de se submeter  ao mundo do som.  Os telemóveis são particularmente interesantes no fim das relações amorosas. Quantas vezes  uma mulher me diz : Ele acabou comigo por SMS.   A bem dizer, a tecnologia não mudou nada de essencial  no mundo das rupturas amorosas.A queixa da mulher seria  a mesma se ele tivesse chegado à mesa do café e tivesse vocalizado está tudo acabado . Então o que mudou? Talvez o que muda sempre com a tecnologia: a velocidade do processo. Isto levanta o problema de saber o impacto da velocidade na comunicação e, no caso analisado, na ordem amorosa. A velocidade implica a solidão do actor comunicacional. Fica o único  responsável pela d

Projecto canadiano: notas adicionais

Entendamo-nos sobre factos, as opiniões ficam para mais tarde: 1) O edifício proibicionista  foi obra  exclusiva dos EUA e  não foi um projecto isolado.  Todas as principais conferências  e convenções internacionais foram  dominadas pela vontade americana de  banir a produção e comércio legal das drogas.  Quando o projecto  filipino arranca, estamos já em pleno caldo preparatório  do Volstead Act ( Lei Seca). Muitos estados went dry bem antes da entrada em vigor da lei federal. A aplicação às  drogas foi uma peça ideológica e religiosa do mesmo tabuleiro. 2)  A Lei Seca foi um falhanço estrondoso .  Factos: a) foi revogada, b) nunca mais foi ensaiada d) lançou as bases operacionais  do tráfico de heroína  nos EUA ( ver link supra). 3) A proibição, ou melhor, o efeito esperado do projecto americano, nunca funcionou.  Foi uma ideia que falhou. O narcotráfico  e o consumo explodiram depois da Single Convention  de 1961. Com a canabis  é o mesmo .