A minha Carla
A minha Carla já tem quarto no lar da sociedade recreativa, um quartinho todo arranjadinho e tudo combinado para quando eu já não andar por cá, não sei se percebe, claro que percebe, todos temos de morrer não é verdade?
Desde que o meu marido morreu que não penso noutra coisa, em deixá-la ataviada, deixá-la bem. Eu já mal me posso mexer sem estas amigas debaixo dos braços e estes trambolhos que já foram pernas. Foi sempre fraquinha, a minha Carla, dantes eu costumava dizer que ela era como o almece com que se faz o requeijão. Sempre, sempre, sempre... desde que lhe deu aquilo ainda mamava. Os doutores que corri... nem imagina: Covilhã, Fundão, Viseu, uma cecameca.
Seja como for, já estou mais descansada. A minha vida foi assim, o meu homem doente durante anos, a Carla coitadinha sempre doer-me a alma, mas sabe, vivi pela graça de Nosso Senhor e fiz o que pude. Não , não diga isso....grandes mulheres são as outras, as que estão na política, as que trabalham e têm filhos, as que viajam. Olhe , eu fui a Lisboa uma vez.
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