O marquês
Rodrigo Gondesendes de Trava e Azevedo ( abreviando) é o esterótipo do nobre remediado. Não passeia nu sob um casaco de zibelina, como os velhos condes polacos falidos, mas já não tem carro. Vive num pequeno apartamento de duas assoalhadas ao lado de um hipermercado.
Aos sessenta e oito anos só escapa a este mundo quando a prima o leva, uma ou duas vezes por ano, ao velho solar de família. Dói-lhe ver as silvas e o telhado esburacado, mas consola-se na memória das paredes. Recolhe-se na pequena capela e pergunta-Lhe qual o sentido de tudo aquilo.
Não teve uma infância feliz, reconhece agora. Quase não via os pais e menos ainda conviveu quando fugiram para o Brasil naquela coisa dos comunistas. Eles tiraram-nos tudo foi a régua que o acompanhou na adolescência. Valeu-lhe conhecimentos e anqueos familiares na normalização, mas o lugar na dierccção-geral enfiou-o numa semi-existência. Memórias e despeito.
Ainda assim sobreviveu ou não fosse descendente de bravos ricos-homens. Sim, sobreviver é o que tem feito, velho e reformado. Quando vai ao hipermercado, em pequenos passos parkinsónicos, observa as gentes remediadas como ele. Estranhamente felizes.
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