Zé Charruço
Deito o fogo sim, por que não haveria de deitar? Quando já dei na borracha toda noite e estou sozinho com dua cabras e uma televisão que nem dá o Benfica. Comi uma lata de atum e duas cebolas. Não que não tenha dinheiro - até tenho algum -, mas aqui no casal não há restaurantes. E para fazer compras no Lidl é preciso rodas e já não tenho carta faz mais de dois anos.Você está na sua casa da cidade com elevadores e uma gaja quentinha na cama à espera.
Que não sei o que faço? Uma porra é que não sei. Quem não sabe são os bombeiros, até as televisões dizem. Sete por nove ruas e ainda vão apertados. Não estou aqui para contar arolas. Em certas meadas, já entornado , no meio do mato como vivo, olho para a serrania e dá-me para meu lado bargantão. Quero foder aqueles cabeços todos, quero que fiquem fodidos como eu estou.
Não é do fogo que gosto, não lhe tenho tenças, até me mete medo. É de dar cabo de tudo, de ter a coragem de dar cabo de tudo. Quando acordo a sol alto no dia seguinte nem penso que fui que fez aquilo. E não fui, foi outro. Eu não tenho coragem.
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