O grande Rodrigues
Só os estúpidos não mudam. O Rodrigues não é estúpido.
Foi do Sporting até aos vinte anos. Ia a Alavalade ver os jogos, emocionava-se com a linha avançada: Keita, Jordão e Manuel Fernandes. Depois conheceu a Sofia. O futuro sogro, um juiz severo mas apaixonado pela bola, era do Benfica. Rodrigues aprendeu as maravilhas de outra linha, Magnusson e Rui Águas , e passou a ir para o camarote da Luz, o maior estádio da Europa.
Na faculdade enturmou-se com uns amigos, sobretudo o Orey, e assinou a ficha do CDS. Envolvido na política estudantil, fez figura pela maneira leonina como atacava os comunistas que tinham matado Amaro da Costa. Viajou com o partido a Bruxelas e Paris, fez-se homem. O cavaquismo desiliudiu-o num tempo em que dava aulas no secundário. Aplicado e estudioso, estabeleceu laços frutíferos com o Ferreira, sindicalista da UGT, católico e homem bom. Quando Guterres concorreu fez-se-lhe luz. Num dia claro e límpido filiou-se no PS e na UGT. Chegou a deputado pelo seu círculo natal ( Castelo Branco) .
A meia idade mostrou-lhe como a vida é. Sim, fundou a sua família ( a Sofia e dois filhos) e nos tempos do guterrismo escreveu vários artigos, no Jornal do Fundão, arregaçando para a família cristã e para o compromisso as honras modelares. Acontece que aos cinquenta anos conheceu uma advogada estagiária no escritório de um amigo. Rapariga espairecida, radical altermundista e advogada da luta contra o modelo machista da família burguesa. Um rabo de sonho deu o toque final. Rodrigues divorciou-se com alguma aspereza, amargado pelos anos que as pantufas da ditadura conjugal lhe roubaram.
Hoje aguarda o que a vida lhe dará. Prosélito da constante mudança, orgulha-se do seu percurso vibrante e humanista. Nega ser um troca-tintas, nem percebe a acusação: só os estúpidos não mudam e ele muda sempre.
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