A batalha de Montecatini

Dino  começou a fazer sucesso na faculdade. Num tempo de esgotamento das dicotomias, recusava o capitalismo, o socialismo, o liberalismo, o fascismo e o comunismo.  Comprou um livrinho do Reich, leu-o e assumiu o sexualismo. Dino abominava o masturbacionismo. O tempo foi passando. Em tertúlias, blogues ( nesse tempo ainda não havia o twitter), seminários, conferências com convidados de alto-lá-com-ele, Dino explanava.

Todos os problemas do mundo começam na tensão sexual, explicava. A quarentona  mais apagada, a adolescente mais  insegura, o homem mais neurótico , todos podiam ser saudáveis se  praticassem o sexo sem restrições com todos.  A luta tinha de ser travada nos elevadores, nos McDonald,  nos semáforos. Abaixo as grilhetas  do registo civil ou o tabu da diferença de idades. O sexo permanente, incansável,  metódico, era  a única forma de progresso da humanidade no caminho da paz e da redenção. Desprezava os movimentos  hippie e os festivais  rock e da igreja católica: eram redutores e fraccionários. O centralismo sexual assumia a via única para a libertação.

A vida foi correndo, Dino empregou-se numa escola, teve uma filha que perfilhou e envelheceu. Há um par de anos apaixonou-se por uma colega que lhe fazia lembrar um pequeno esquilo que havia no jardim da sua infância. Catequista, vertical e diligente, de uma ética  a toda  a prova,  Sandra mudou-o de alto a baixo. Chegou a director da escola com a ajuda da sua nova companheira e o tempo voltou a passar.

Certo dia chegou a casa mais cedo e encontrou a sua filha adolescente, Tatiana, nua, no sofá com um  homem da TV Cabo.  Mandou-os vestir, expulsou o indivíduo e disse à filha para nunca mais o chamar de pai.

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