Canabis e guerra colonial
"Do pouco que os seus consumidores estão dispostos a falar,24
pode dizer-se que a canábis era usada na guerra de África como uma
forma de ajudar a relaxar, “espantar o medo”, aliviar a ansiedade e
escapar à angústia (Vardasca 2010) – que naquele contexto, de acordo com
os testemunhos, assumiam uma dimensão colossal. Normalmente em
associação com as bebidas alcoólicas, o consumo de canábis tanto podia
ser feito em pequenos grupos como de forma isolada. Tendia a ser
discreto mas não se tratava de algo propriamente secreto e / ou algo
que, por si só, desse origem a castigos disciplinares".
Comparem com o álcool:
“Outro problema que cá temos é o das quantidades astronómicas de cerveja
que estes tipos bebem. Uma loucura! Muitos deles, quando chegam à
cantina, em vez de pedirem uma cerveja, pedem meia grade! […] O seu
tranquilizante é o álcool, é com ele que se sentem mais animados, é ele
que lhes tira do pensamento os problemas […]. Devo tirar-lhes a bebida?
Devo tirar-lhes o biberão, a eles, que na realidade são crianças
ingénuas e ignorantes a quem disseram que eram homens, a quem deram uma
espingarda, a quem lançaram para uma guerra onde muitos vão ficar? Devo
tirar-lhes a única coisa que para além do correio os mantém vivos?”
(Niza 2012: 46-47)".
Esta descrição é anacrónica. Emula , do ponto de vista cultural, o que temos hoje, mas com uma pequena diferença: a canabis já é sentida como um interdito. Não altera o essencial: cada cultura tem o seu ansiolítico natural. Selecciona o que é tolerado. A interdição é, portanto, também ela um dispositivo cultural, indiferente à razão e à ciência.
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