O tempo irreparável ( 6)
Outra ilusão encantadora é a de que temos memória. Tanto não é nossa que a perdemos sem aviso nas demências, bem como, quando ainda existe, não nos segue qual podenga fiel.
A memória é um arquivo variado. Tem secções modernas cheias de tecnologia e departamentos húmidos e bolorentos ao cuidado de um velho de cahimbo. É por isso que às vezes estamos bem dispostos e vem-nos uma recordação sombria e amarga. Noutras ocasiões, como diz o aforisma, prega-nos partidas. Noutras ainda, ficamos espantados como recordamos a mesma coisa de forma diferente ao longo da nossa vida.
A memória é prima direita do sonho: vive cá em casa, mas tem chave.
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