Drogas ( 1)
A tendência para a legalização da produção e comércio das actuais drogas ilegais era inevitável. Convém recordar sempre que o edifício proibicionista só ficou concluído em 1961. A partir daí, a hipocrisia americana assumiu-se de vez:
William Casey dirige, nos anos 80, uma das maiores estações da CIA. Em
1982, a heroína afegã e paquistanesa já cobre as necessidades de 60% do
americanos. O Afeganistão já
produz, em 1983, cerca de 575 toneladas /ano. Greenleaf e Wilson
explicaram à administração Reagan que "se dessem à guerrilha afegã um
décimo da ajuda que os soviéticos deram aos norte-vietnamitas, the Russians would really have either hands full".
Em 1983, pôs-se o problema da Emenda Rodino, que interditava a ajuda a
países que não tomassem medidas adequadas para controlar a produção e
exportação de narcóticos ( Mc Coy, 2003).
O presidente da House of Foreign Affairs
Comittee, Steven Solarz, quis saber como era possível ajudar quem
enchia as ruas americanas de heroína barata. Não obteve resposta, porque
o general Zia foi considerado um amigo dos EUA. No entretanto,
humilhados, vários agentes da DEA pediram a transferência para fora do
Paquistão.
Este pedacito de história serve para elaborar uma pequena nota sobre uma miragem: a da regulação dos preços das drogas. Muito dificilmente algum território o conseguirá, porque a produção mundial não está regulada. Se um país quiser vender canabis, ou heroína, num monopólio estatal, com preços fixos ( como a recente proposta do PSD parece sinalizar), pode deparar-se com um cenário semelhante ao descrito no episódio afegão. Ou seja, pode ver o mercado ilegal inundar as ruas com o mesmo produto a metade do preço. Podem dizer que com o tabaco é o mesmo e que isso não impede o governo de controlar a comercialização. Big mistake.
A cultura das intoxicações ilegais tem um já experiente aparelho de fidelização de clientes. As zonas cinzentas do tráfico não se comparam, nem de perto, às da procura de cigarros ilegais. A tradição, a experiência, o savoir faire, existem e há muito tempo. Sim, foi o que a proibição criou: um formidável mercado, um mundo à parte.
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