Sinais ( 3)
As grandes mudanças tecnológicas são irreversíveis. Ninguém abandona o automóvel para regressar à carroça nem troca o telemóvel pelo pombo-correio. Resistir às mudanças é bom, faz parte da dialéctica, mas recusá-las é outro osso.
Uma dessas recusas é a teoria de que a tecnologia criou uma sociedade de ódios e rumores permitindo que qualquer um diga e escreva o que lhe apetece sobre não importa o quê nem quem. Isto não é novo. Os psi de alpaca nunca perceberam que não é o meio - a multidão - que transforma o pacato Zé num vandâlo. O pacato Zé é uma construção da sogra, do trânsito e do patrão toda a santa semana, mas, aos domingos, anónimo no meio da tal multidão, sente-se livre para atirar um pedregulho a um fiscal de linha que não conhece de lado nenhum. A multidão não criou nada, revelou.
Como sempre, numa sociedade capitalista, as novas tecnologias ficam ao dispor das massas num ápice. Todos conhecemos o exemplo do erudito que brincava aos blogues e que depois se afasta, enojado com a invasão do espaço virtual pela populaça.
Os ódios e os boatos nos salões e nas chancelarias eram sanitariamente separados dos dos lavadouros públicos e das tabernas. Agora convivem alegremente.
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