Sinais ( 11)
Suponho que seja um movimento convergente: os novos são hoje mais atinados, os velhos estão mais amalucados. É contrário à tradição do enfado diante da decadência? Tanto melhor.
Os novos quase nunca têm mais do que um irmão ( com frequência são filhos únicos), muitos cresceram com pais separados, confiam na tecnologia para lhes indicar os caminhos do bosque. Têm de ser sólidos. A lengalenga do facilitismo escolar só a compreendo a quem não tem filhos. Os miúdos de hoje estudam muito mais. Os meus tinham testes com a matéria do ano inteiro: comigo dava motim ou encenação de crise psicótica.
São porventura mais lânguidos, ficam em casa dos pais mais tempo? Talvez. Os ursos também hibernam, mas isso não os impede de limpar o sarampo ao primeiro petisco primaveril. Para além disso, é inteligente não ter pressa de entrar neste mundo adulto em que os impostos nos comem vivos, os cãezinhos têm papás e o tédio sobrevive aos antidepressivos.
Os mais velhos são precisamente clientes da química. Metade funciona a ansiolíticos e antidepressivos, a outra metade estiola na lista de espera. As coisas não correram bem. O mundo é mau e injusto, ganha-se pouco, o amor é no Netflix. Os pais duram eternidades e os lares são caros.
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