Tachos, panelas e nostalgia ( 2)

Sobre os feijões, escrevia  mestre Aquilino:  de todas as cores  e matizes, a  ponto de vistos em mescla numa teiga poderem imitar  as gemas de vária espécie, com que se há-de espaldar  a orelheira  do cevado  e a couve troncha ? 
Em quantas famíias urbanas se come,  hoje, com regra, essa espécie?  Nos restaurantes é a saladinha de feijão frade com atum de conserva e já vais daqui. Abundantes são as feijoadas, é certo, as mais das vezes todas iguais, com chouriço insalubre  e piano de porco industrial. Nas casas urbanas, como dizia, é um deserto igual.
Dêem à família uma sopa  de feijão com todos e ela manda-vos o jantar pela janela. Couve segada miúda, feijão vermelho, caldo  engrossado de cebola  e cenoura, um nabito à coca, umas talhadas de entremeada salgada.  Nem vocês têm tempo para tal preparo. Uma sopa destas precisa de muito minuto e pouco lume. Só assim os aromas e os sabores se mesclam e partilham com o caldo a benção generosa.
Aqui que ninguém me ouve, é com caras de bacalhau que me vai  o   feijão-manteiga. Sofrido  canónico ( azeite, cebola , alho e um cheiro de louro e poejo), rêgo de vinho branco, taliscas de cenoura, água à justa e o feijão a entornar. Já tudo em cooperação, as caras do  dito, largas e amarelas, em mais vinte minutos de indecente conúbio. A carne das caras tem um sabor mais concentrado  do que a do corpo do peixe. O feijão  fornece-lhe o apoio psicológico e  a terapia começa.

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